sexta-feira
Lya Luft
Deus, eu faço parte do teu gado:
esse que confinas em sonho e paixão, e às vezes em terrível liberdade.
Sou como todos, marcada neste flanco pelo susto da beleza, pelo terror da perda e pela funda chaga dessa arte em que pretendo segurar o mundo. No fundo, Deus, eu faço parte da manada que corre para o impossível, vasto povo desencontrado a quem tanges, ignoras ou contornas com teu olhar absorto.
Deus, eu faço parte do teu gado estranhamente humano, marcado para correr, amar, querendo colo, explicação, perdão e permanência."
Dos sonhos e das realidades....
Nelson Rodrigues
O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida:
- "Senhoras e senhores, eu sou um canalha "
- "Senhoras e senhores, eu sou um canalha "
Nene Altro
O Escorpião e o Sapo
O escorpião precisava atravessar um riacho e pediu uma carona para o sapo.
O sapo diz: "Não confio em você, é um escorpião,"
O escorpião diz que ele pode confiar.
Sobe nas costas do sapo.
No meio do caminho, dá uma ferroada no sapo.
O sapo olha para ele: "Porque fez isso? Nós dois vamos morrer."
O escorpião diz:
"Não posso evitar. Sou um escorpião."
domingo
Tempestade
Não tenho tempo a perder. A vida é muito curta pra fazer todas as coisas que eu quero fazer, pra viver tudo que eu quero viver, pra dizer tudo que eu quero dizer, pra ver tudo que eu quero ver. Pra entender alguma coisa do que vale a pena, só do que vale a pena; e aprender a esquecer tudo o que faz a minha alma se sentir pequena. Quem me envenena de um jeito traiçoeiro, esquece que o feitiço às vezes vira contra o feiticeiro... mas tô ligeiro, um dia é do caçador, outro da caça. Nada nessa vida a gente ganha de graça! Eu fui na raça e no peito e vim no peito e na raça. Passei na tempestade e vi que a tempestade passa. Tá na correria? Vai nessa, mas onde cê vai com tanta pressa?
agora faz calor, depois também faz frio. O mundo é feito um mar e eu vou que nem um rio. correndo sem parar, sei que vou chegar - sei que vou chegar, apesar dos meus desvios; sei que vou chegar e que eu não me extravio; sei que vou chegar e que eu não vou vazio! Quando a bomba estourar, eu quero ’tar sorridente! Quero ’tar limpando os dentes com um pedaço do pavio!
sem perder a perseverança; sem perder o equilíbrio na balança; sem perder a humildade na bonança, que depois da bonança vem tempestade, depois da bonança vem tempestade, cumpadi, depois da bonança vem tempestade, depois da tempestade vem bonança também, atividade enquanto o lobo não vem. Tem armadilha na trilha... Tem armadilha... Passei por toda a tempestade e sei que toda tempestade passa
Nada, nada, respira direito, respira, respira, o ar ficou rarefeito. Se a canoa tá virada não tem outro jeito: vai no peito e na raça, vai na raça e no peito. Nada como um nado estilo livre nesse mar, nado de peito que é desse jeito que eu curto nadar. Nadar da pedra pra praia, da praia pra pedra, do canto pro meio, do meio pro canto, do raso pro fundo... do fundo do peito, de dentro da onda pra fora da linha da arrebentação da ressaca do mundo, alguns segundos só na apnéia, sem respiração, só pra abrir o pulmão e as idéias. Só pra sentir saudade do oxigênio e respirar de novo e me lembrar de que isso é um prêmio. Só pra cuspir com força o gás carbônico como se eu vomitasse os meus problemas mais recentes e os crônicos ...
Não tenho tempo a perder. A vida é muito curta pra fazer todas as coisas que eu quero fazer.
(Gabriel, o Pensador)
agora faz calor, depois também faz frio. O mundo é feito um mar e eu vou que nem um rio. correndo sem parar, sei que vou chegar - sei que vou chegar, apesar dos meus desvios; sei que vou chegar e que eu não me extravio; sei que vou chegar e que eu não vou vazio! Quando a bomba estourar, eu quero ’tar sorridente! Quero ’tar limpando os dentes com um pedaço do pavio!
sem perder a perseverança; sem perder o equilíbrio na balança; sem perder a humildade na bonança, que depois da bonança vem tempestade, depois da bonança vem tempestade, cumpadi, depois da bonança vem tempestade, depois da tempestade vem bonança também, atividade enquanto o lobo não vem. Tem armadilha na trilha... Tem armadilha... Passei por toda a tempestade e sei que toda tempestade passa
Nada, nada, respira direito, respira, respira, o ar ficou rarefeito. Se a canoa tá virada não tem outro jeito: vai no peito e na raça, vai na raça e no peito. Nada como um nado estilo livre nesse mar, nado de peito que é desse jeito que eu curto nadar. Nadar da pedra pra praia, da praia pra pedra, do canto pro meio, do meio pro canto, do raso pro fundo... do fundo do peito, de dentro da onda pra fora da linha da arrebentação da ressaca do mundo, alguns segundos só na apnéia, sem respiração, só pra abrir o pulmão e as idéias. Só pra sentir saudade do oxigênio e respirar de novo e me lembrar de que isso é um prêmio. Só pra cuspir com força o gás carbônico como se eu vomitasse os meus problemas mais recentes e os crônicos ...
Não tenho tempo a perder. A vida é muito curta pra fazer todas as coisas que eu quero fazer.
(Gabriel, o Pensador)
sexta-feira
"Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado.
Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento.
Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Ninguém lembra do que foi normal.
Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta.
Não diga eu sei, eu sei, quando nem ouviu direito. Almoce sozinha para lembrar do que foi servido em sua vida.
Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens.
Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você.
Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar.
Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras.
Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público.
Não seja séria; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira.
Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer."
Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento.
Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Ninguém lembra do que foi normal.
Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta.
Não diga eu sei, eu sei, quando nem ouviu direito. Almoce sozinha para lembrar do que foi servido em sua vida.
Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens.
Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você.
Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar.
Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras.
Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público.
Não seja séria; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira.
Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer."
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