domingo

De Fernando Pessoa



Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

(Fernando Pessoa)

sábado

De Huxley....



"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência, debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias - tudo isso são coisas privadas e, a não ser através de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares.Muitos desses universos são suficientemente semelhantes, uns aos outros, para permitir entre eles uma compreensão por dedução, ou mesmo por mútua projeção de percepção. Assim, recordando nossos próprios infortúnios e humilhações podemos nos condoer de outras pessoas em circunstâncias análogas; somos até capazes de nos pormos em seu lugar (sempre, evidentemente, em sentido figurado). Mas em certos casos a ligação entre esses universos é incompleta, ou mesmo inexistente. A mente é o seu campo, porém os lugares ocupados pelo insano e pelo gênio são tão diferentes daqueles onde vivem o homem e a mulher comuns que há pouco ou nenhum ponto de contato na memória de cada um para servir de base à compreensão ou a ligação entre eles. Falam, mas não se entendem. As coisas e fatos que símbolos se referem pertencem a reinos de experiências que se excluem mutuamente."
Aldous Huxley - As Portas da Percepção


"Feliz ou infelizmente, todos nós exageramos ao exercer o papel de nosso personagem favorito"
Aldous Huxley

domingo

De Charles Chaplin



Sorria.
Mas não se esconda atrás deste sorriso.
Mostre aquilo que você é. Sem medo.

Existem pessoas que sonham.Viva. Tente.
Felicidade é o resultado dessa tentativa.
Ame acima de tudo.
Ame a tudo e a todos.
Disso depende a felicidade completa.
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distância e, sim uma aproximação.

Aceite a vida, as pessoas.
Faça delas a sua razão de viver.
Entenda os que pensam diferentemente de você.
Não os reprove.
Olhe à sua volta, quantos amigos... você já tornou alguém feliz?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?

Não corra... Para que tanta pressa?
Corra apenas para dentro de você.

Sonhe,mas não transforme esse sonho em fuga.
Acredite! Espere!Sempre deve haver uma esperança.
Sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute!
Faça aquilo que você gosta.
Sinta o que há dentro de você.
Ouça...Escute o que as pessoas têm a lhe dizer.
É importante.
Faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo...
Mas não esqueça daqueles que não conseguiram subir a escada da vida.

Descubra aquilo de bom dentro de você. Procure acima de tudo ser gente.
Eu também vou tentar...

segunda-feira

A balada do cárcere de Reading (Fragmentos)


No entanto, todo homem mata aquilo que adora,
Que cada um deles seja ouvido.
Alguns procedem com dureza no olhar,
Outros com uma palavra lisonjeira.
O covarde fá-lo com um beijo,
Enquanto o bravo o faz com a espada!

Uns matam o próprio amor quando ainda jovens,
Outros o fazem na velhice;
Uns estrangulam com as mãos da luxúria,
Outros com a mão de Ouro,
O que é bondoso faz uso do punhal,
Porque a morte assim vem mais depressa.

Uns amam pouco tempo,outros demais,
Uns vendem,outros compram;
Alguns praticam a ação com muitas lágrimas
E outros sem um suspiro,sequer:
Pois todo o homem mata o objeto do seu amor
E, no entanto, nem todo homem é condenado à morte.

(Oscar Wilde)

De Clarice....


"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora? Não, é que vivo em eterna mutação com novas adaptações a meu renovado e nunca ao fim de cada um dos meu modos de exitir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus. Vivo em escuridão da alma, e o coração pulsando, sôfrego pelas futuras batidas que não podem parar."

"É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção.. porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada..."
(Clarice Lispector)

domingo

E...


"...E se você não soubesse o que tinha,
até perder pra sempre?
E se a vida te desse uma segunda chance,
pra amar quem você perdeu?
E se você tivesse um dia,
pra mudar o destino?... "

segunda-feira

Do mundo e da poesia...



- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

E dos dias hoje, amanhã e sempre....



"Hoje levantei pensando no que tenho que fazer antes que o relogio marque meia-noite.
É minha função escolher que tipo de dia terei hoje.
Posso reclamar que esta chovendo ou agradecer às águas por levarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdicio.
Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tedio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.
Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não sairem como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar.
O dia está na minha frente, esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar a forma.
Tudo depende de mim..."

Charles Chaplin

sábado

E da existência e relógios...



"É uma verdade incrível como a existência da maior parte dos homens é insignificante e destituída de interesse, vista exteriormente, e como é surda e obscura sentida interiormente. Consta apenas de tormentos, aspirações impossíveis; é o andar cambaleante de um homem que sonha através das quatro épocas da vida, até à morte, com um contejo de pensamentos triviais. Os homens assemelham-se a relógios a que se dá corda e trabalham sem saber a razão. E sempre que um homem vem a este mundo, o relógio da vida humana recebe corda novamente, para repetir, mais uma vez, o velho e gasto refrão da eterna caixa de música, frase por frase, com variações imperceptíveis."
Arthur Schopenhauer, in 'Do Sofrimento do Mundo'

Escolhas


"No primeiro dia de aula nosso professor apresentou-se aos alunos e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecíamos ainda. Fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás, vi uma pequena senhora velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser. Ela disse: "Ei, bonitão. Meu nome é Rose. Tenho oitenta e sete anos de idade. posso dar um abraço?" Ri e respondi entusiasticamente - é claro que pode! E então recebi o abraço apertado. Por que você está no colégio em tão tenra e inocente idade? - perguntei, ao que me respondeu brincalhona: "Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar". Está brincando, falei, curioso para saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com sua idade, e ela disse: "Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora, estou tendo um!" Após a aula caminhamos juntos, dividimos um "milkshake" de chocolates, nos tornamos amigos instantaneamente. Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela "máquina do tempo" compartilhar sua experiência e sabedoria comigo. No decurso de seu ano, Rose tornou-se um ícone no campus universitário. Fazia amigos facilmente, onde quer que fosse, adorava vestir-se bem e revela-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Ela estava curtindo a vida! No final do semestre convidamos Rose para falar no nosso banquete de futebol. Jamais esquecerei do que ela nos ensinou. Ela foi apresentada aproximou-se do pódium e um tanto embaraçada porque deixou cair três das cinco folhas de sua fala preparada, ao chão, pegou o microfone, desculpou-se e disse apenas: "deixem-me apenas falar para vocês aquilo sobre aquilo que eu sei."
"Nós não paramos de jogar porque ficamos velhos; nós ficamos velhor porque paramos de jogar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, e conseguindo sucesso":
* Você precisa rir e encontrar humor em cada dia.
* Você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam!
* Há uma enorme diferença entre você ficar velho e crescer. Se você tem dezenove anos de idade e fica deitado numa cama o dia inteiro e não faz nada de produtivo, você ficará com vinte ano. Se eu tenho oitenta e sete ano e ficar numa cama e não fizer coisa alguma eu ficarei com oitenta e oito anos. Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento e nem habilidade. A idéia é crescer, é encontrar a oportunidade na novidade.
* Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não se arrependem por aquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que têm medo da morte são aquelas que têm remorsos."
Ela concluiu seu discurso cantarolando "A Rosa". Nos desafiou a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. Uma semana depois da formatua, Rose morreu tranqüilamente em seu sono. Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de exemplo, que nunca é tarde para ser tudo aquilo que você provevelmente pode ser.
"Ficar velho é obrigatório. Crescer é opcional."

Texto retirado do Jornal Cruzeiro do Sul, edição do dia 16/06/2004.