segunda-feira

Fernanda Young - Tudo o que você não Soube


Meu Deus, é preciso ter bóias resistentes, para quando pularmos das janelas, para quando sentirmos o chão fugir debaixo dos nossos pés. ...

O amor, o amor, o amor. Vá para a puta que o pariu o amor. Todo esse imperativo de amar é puro masoquismo. De ser amado, mero sadismo. ...

... Aprendi a não desejar o que não existe. ... Não vou me matar no ataque, apenas porque não tenho a nobreza de um kamikaze. ...

Quem não seria feliz tendo uma vida cretina dessa? ...

... Mas é tudo uma reverberação de vida. Sigo me movendo por inércia, cadáver distraído. ...

E pior: até hoje creio piamente que o mundo gira ao redor de mim, e que rodo junto com ele, sempre mostrando justamente meu lado obscuro. ...

Sou um caso raro de egocentria aguda com complexo de inferioridade. ...

Eu estou morrendo por auto-asfixia, ao sufocar essa história dentro de mim. Já que ninguém sabe quem eu sou. Eu sou uma falsa à paisana, uma embalagem que engana, corroendo-me com os segredos ácidos que guardo. Nossa como eu gostaria de ser uma grande romancista. Iria contar mil outras histórias, que não a minha, e disfarçar-me bem em todas elas. ...

Enfim, eu vomito o meu passado na sua cara por puro alívio. ...

Ofereço-lhe, contudo, aquilo que tenho de melhor – as minhas mentiras. Bem mais agradáveis e gentis que as minhas verdades. ...

Só que prefiro disfarçar. Não gosto de que as pessoas saibam da delicada doçura que guardo no peito. ...

... Eu sou capaz de ser feliz. Sou. Não por muito tempo, por isso virei essa pessoa que é quase legal, mas não totalmente. ... Mesmo que haja em mim um sabotador interno, que quer foder com tudo a todo custo. Mesmo que eu tenha essa cara de quem não está achando graça em nada... No paraíso, eu me sinto deslocada. ...

... Sabe o que é isso? Sentir-se falsa sempre que se chega perto de um bem-estar? Tendo que atuar em vez de viver? ...

... Chata, não posso me alegrar em teoria. ...

A partir de agora eu serei a “A Louca que Perdoa.” ... Pois o perdão é uma espécie de vingança realizada. Gente que diz que perdoou não-sei-quem, mesmo depois de tudo que não-sei-quem fez, diz para se gabar. A gente aprende sobre esse tipo de artimanha, quando conhece o ódio na intimidade. ...

... Quero parar e não consigo, quero ter razões para continuar e não consigo. ... “Obrigada por ter tentado me fazer feliz, querido, só que não dá.” ...

Entendo o que sinto, porque eu não sou o que sinto.

Um comentário:

lorraine disse...

Nossa. Sinto como se alguém estivesse me descrevendo...