quinta-feira

Hilda Hilst


Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela
que muitas filhas te deu, casou donzela
e à noite se prepara e se adivinha
objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
aflição de ser água em meio à terra
e ter a face conturbada e móvel.

E a um só tempo múltipla e imóvel
não saber se se senta ou se te espera.

Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

Um comentário:

Thaisa Santos disse...

Todas as vezes que abro seu blog, encontro um post com uma poesia ou um pensamento que expressa o que exatamente estou sentindo naquele momento. Impressionante!Uma versão muito melhorada daqueles minutos de sabedoria...ótimo seu blog